Dia 17 de maio é o Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia. A data faz referência ao dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, retirou o termo “homossexualismo” da classificação de doenças ou problemas relacionados à saúde.
Para conscientizar a sociedade sobre a necessidade de combater o preconceito contra a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), o Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul (CRP14/MS) mostra um pouco da situação do Brasil em relação a crimes ligados a homofobia.
Em 2017, a Rede Trans e o Grupo Gay da Bahia divulgaram dados estarrecedores. Só no ano passado, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O número representa uma vítima a cada 19 horas, de acordo com o relatório.
O monitoramento anual do grupo Gay da Bahia indica um aumento de 30% em relação a 2016, quando foram registrados 343 casos. Já um ano antes, em 2015, foram 319 LGBTs assassinados, contra 320 em 2014 e 314 em 2013. O saldo de crimes violentos contra essa população em 2017 é três vezes maior do que o observado há 10 anos, quando foram identificados 142 casos.
Uma das raízes desse problema, de acordo com a psicóloga Yasmine Braga, está relacionado com o desenvolvimento da família patriarcal e do discurso heteronormativo vinculado a este modelo.
“A família patriarcal foi importante para o desenvolvimento do capitalismo e das relações heteronormativas. Portanto, desde a infância até a vida adulta os sujeitos vão passar por uma, digamos, ‘modelagem de comportamento’, com a qual se organiza tudo que é aceito socialmente, inclusive a partir de modelos ideias de homem e mulher. Assim, a sociedade estabelece condutas de masculinidade e feminilidade. Esse modelo vai gerar sofrimento àqueles que não cabem dentro das expectativas sociais determinadas. Isso também contribui para o ódio”, explica Yasmine.
A Psicóloga também comenta que o sofrimento psíquico está associado a este contexto de modelos e expectativas. “A possibilidade de não poder exercer a sua sexualidade da maneira como você gostaria gera sofrimento psíquico. O sofrimento não é causado pela pessoa não se aceitar como homossexual. Mas é decorrente da pressão social para que o sujeito se enquadre nas expectativas sociais de heteronormatividade”.
O ódio gerado pelo não reconhecimento da diversidade da vida humana repercute de forma violenta na sociedade. Das 445 mortes registradas em 2017, 194 eram gays, 191 eram pessoas trans, 43 eram lésbicas e 5 eram bissexuais. Em relação à maneira como eles foram mortos, 136 episódios envolveram o uso de armas de fogo, 111 foram com armas brancas, 58 foram suicídios, 32 ocorreram após espancamento e 22 foram mortos por asfixia. Há ainda registro de violências como o apedrejamento, degolamento e desfiguração do rosto. Quanto ao local, 56% dos episódios ocorreram em vias públicas e 37% dentro da casa da vítima.
O que nos deixa mais esperançosos contra esse cenário, comenta a psicóloga, é a mobilização contra a homofobia e a conquista dos espaços de poder pela comunidade LGBT. “Muitos grupos que combatem a homofobia e o preconceito tem conseguido se articular, ocupando espaços importantes, políticos e acadêmicos, contribuindo para o desenho de novas políticas públicas que promovam um enfrentamento ainda maior contra a violência”, completa.