Datas comemorativas são importantes para dar visibilidade e oportunizar reflexão, ainda que breve, a determinado tema ou pessoa. E o dia 25 de julho é, para nós mulheres negras, de extrema consideração: Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. E também dia de Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”, liderança feminina equivalente à Zumbi dos Palmares; uma heroína negra que resistiu e liderou uma comunidade quilombola, no século XVIII, em Mato Grosso.
Ainda que a instituição desta data no Brasil seja recente (desde 2014) as lutas para que se reflitam sobre a condição feminina e as demandas em termos de políticas públicas para a mulher negra são muito anteriores e este dia é mais uma oportunidade para ações no sentido de reafirmar estas pautas.
Ser mulher em qualquer grupo social implica papéis de submissão e inferioridade. E para a mulher negra, além da submissão e inferioridade esperadas, ainda há o enfrentamento com outra estrutura social perversa: o racismo, que pode apresentar-se em suas duas formas: o aberto e o oculto.
No racismo aberto, que prevaleceu em países de origem anglo-saxônica, a segregação mostrou-se declarada. No racismo oculto, que prevaleceu em países de origem latina, como o Brasil, as práticas discriminatórias foram disfarçadas sob o manto da miscigenação, levando à crença numa democracia racial, uma utópica sociedade sem preconceitos.
Para a mulher negra, como já mencionado, a luta é redobrada, em termos de gênero e de raça. Dados[1] mostram que são vítimas de: violência doméstica (59,4%); mortalidade materna (62,8%); violência obstétrica (65,9%) e mortes por agressão (68,8%).
Em termos de representação étnica, presencia-se , ultimamente, pelas redes sociais, discursos de ódio e intolerância, que ganham visibilidade por ataques principalmente contra artistas negros e negras, não poupando nem mesmo crianças. Tal quadro mostra como o racismo está incorporado fortemente à sociedade brasileira ainda que, paradoxalmente, pouquíssimas pessoas se declarem racistas.
A psicologia tem muito a contribuir em termos de enfrentamento ao racismo. É preciso, primeiramente que profissionais psicólogos e psicólogas conheçam e atuem segundo a Resolução CFP n.º 018/2002 que reconhece o quanto a constituição da sociedade brasileira atual é reflexo de uma construção escravocrata e, em decorrência, o racismo torna-se componente nocivo na saúde mental das pessoas e grupos. Assim, sua atuação profissional deve direcionar-se à discussão das formas de preconceitos e na busca de práticas sociais mais saudáveis e igualitárias.
Autora: Catarina Rodrigues
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Graduada em Pedagogia pela UFMS e em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco 9UCDB). É Técnica em Assuntos Educacionais na UFMS e membro do Núcleo de Psicologia e Relações Etnico-Raciais (NuPsER), do CRP-14/MS.