“Há todo um contexto social injusto, desigual, racista e classista que produz morte”, ressaltou a presidente do CFP durante abertura da solenidade
Teve início nesta sexta-feira (27) o IX Seminário Nacional de Psicologia e Direitos Humanos: Radicalizar o Direito à Vida é Semear Futuros Possíveis. A ação é uma iniciativa do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e celebra os 25 anos da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da autarquia.
Durante a solenidade de abertura, a presidente do CFP, Ana Sandra Fernandes, fez uma saudação às(aos) atuais e ex-integrantes da CDH/CFP, bem como às pessoas que integram as Comissões de Direitos Humanos nos Conselhos Regionais de Psicologia em todo o país, destacando que a CDH representa um eixo estruturante do Sistema Conselhos. “Sabemos que os desafios nas bases e nos territórios são imensos e específicos. E vocês foram e seguem sendo guerreiros incansáveis, não arrefecendo nem mesmo em tempos difíceis como os de pandemia e de retrocesso de direitos” destacou.
Entre as contribuições da atual gestão da Comissão de Direitos Humanos, destacou a presidente do CFP, está a campanha nacional de direitos humanos Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?, que posiciona a Psicologia brasileira em uma perspectiva antirracista.
Ana Sandra também lembrou as mais de 666 mil vidas perdidas durante a atual crise sanitária, pontuando que o Seminário configura espaço potente para restabelecer os compromissos radicais em defesa da vida. “Defender os direitos humanos é defender a vida humana em todas as suas expressões e afirmar de modo intransigente a legitimidade da vida dos sujeitos excluídos, estigmatizados e destituídos de dignidade.”
A presidente do Conselho Federal de Psicologia pediu um minuto de silêncio pela morte de Genivaldo de Jesus Santos, identificado pela imprensa como uma pessoa de 38 anos com transtorno mental. Genivaldo foi morto de forma brutal às vésperas da realização do seminário, no dia 25 de maio, após ser submetido a uma abordagem truculenta durante uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba, litoral sul de Sergipe. Nas imagens divulgadas por veículos de imprensa, os agentes usaram o que parecem ser bombas de gás para dominar o homem, preso em um porta-malas. “Sabemos que há todo um contexto social injusto, desigual, racista e classista que produz morte. É também por Genivaldo que estamos aqui”.
Diversidade e Inclusão
Eliane Costa, coordenadora da CDH/CFP, ressaltou que o IX Seminário é um importante marco na medida em que celebra a atuação de décadas do Conselho Federal de Psicologia pela defesa de um Brasil e de uma Psicologia que respeitem todas as vidas e todas as pessoas. “Esta é uma atividade que comemora as iniciativas de todas as gestões da Comissão de Direitos Humanos pela afirmação de um país e de uma Psicologia plurais, diversos e inclusivos”, ressaltou.
A coordenadora da CDH também chamou a atenção para a violência cotidiana e a negligência do Estado que atingem os corpos, sobretudo, das pessoas mais vulnerabilizadas da sociedade, colocadas sob uma condição precária, marginal e abjeta. “Que este seminário emocione, produza troca de saberes e aprendizado e, sobretudo, inquiete, provoque, desassossegue intelectual e politicamente, pois o incômodo pode ser uma importante arma para romper ódios, privilégios, assistencialismos e piedades”, afirmou.
Radicalizar o direito à vida é semear futuros possíveis
O tema central do seminário foi debatido na conferência magna que encerrou as atividades no período da manhã. A psicóloga Maria Lúcia Silva, do Instituto AMMA Psique e Negritude e da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) (Anpsinep), apresentou um panorama do exercicio da Psicologia ao longo das décadas e sua conexão com as relações etnico-raciais, apontando perspectivas necessárias para radicalizar o direito à vida.
Maria Lúcia Silva também problematizou o cenário no qual a pandemia vulnerabiliza de forma intensa e sistemática as pessoas, sobretudo as negras e as populações tradicionais, na medida em que as políticas em curso precarizam o acesso a direitos, desestruturam os equipamentos públicos e desmantelam os mecanismos de proteção social.
“No Brasil, a luta pela vida, pelo acesso à educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer passa necessária e urgentemente pela luta contra o racismo, que é estruturante e organizador das relações pessoais e institucionais, e que atua para a dizimação dos povos originários e da população negra. Esta é uma luta de todos”, ressaltou.
Psicologia e Direitos Humanos
Além de celebrar os 25 anos da CDH/CFP, o IX Seminário Nacional de Psicologia e Direitos Humanos se dá no marco dos 60 anos da regulamentação da Psicologia no país. A atividade busca destacar o compromisso ético-político da Comissão de Direitos Humanos do CFP, a fim de promover uma ampla reflexão sobre temas e desafios frequentes ao longo das últimas décadas e que seguem relevantes.
As atividades do IX Seminário Nacional de Psicologia e Direitos Humanos seguem até sábado (28), com rodas de diálogo e atividades culturais diversas. Entre elas, a cerimônia do Prêmio Profissional Virgínia Bicudo, na qual serão divulgados os nomes das(os) vencedoras(es) da premiação lançada pelo Conselho Federal de Psicologia para fomentar a divulgação de estudos e ações exitosas no campo da Psicologia e sua interface com as questões raciais.
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