Ainda dentro da programação de eventos comemorativos aos 53 anos da Psicologia, o CRP 14/MS, desta vez em parceria com o Fórum Lacaniano de Campo Grande realizou a conferência “Mal-ester, sofrimento e sintoma” com o psicanalista Christian Dunker.
O evento realizado na manhã deste sábado, 29 de agosto de 2015, reuniu no auditório da Anhanguera Uniderp mais de 250 pessoas entre profissionais e acadêmicos.
A mesa de autoridades foi formada pela secretária do CRP 14/MS, Irma Macário, representando a presidência da instituição, que destacou “a profissão de várias Psicologias que segue sendo construída a cada momento e a cada dia”. Marilene Kovalski, anfitriã do evento, também celebrou a aproximação entre o Conselho e a Escola do Fórum Lacaniano na realização do evento. De Dourados, Francina Souza, coordenador Fórum Lacaniano de MS, também parabenizou a organização do evento.
A conferência destacou o tema do mais novo livro do autor Christian Dunker, sob o mesmo título: Mal-estar, Sofrimento e Sintoma.
Para Dunker, o sofrimento depende de como a gente reconhece e acontece de forma distinta de como é socialmente aceito. “Sofrimento deve ser abordado como uma categoria clínica ou social ?! Na verdade nas duas! Nem Freud, nem Lacan conceituaram o sofrimento, a Teoria Social é quem conceituou o sofrimento enquanto um fenômeno – a partir da investigação do suicídio como um resultado produzido pela forma como o sofrimento é reconhecido por uma determinada comunidade em uma determinada época”, explica Dunker.
O conferencista destacou os três de suicídio:
1) O Egoísta: "vou embora para que essa dor passe"
2) O Altruísta: "eu me mato para deixar um bem pra vocês (coletivo)"
3) O Anômico: não é dirigido a si nem ao outro, mas pela interpretação das leis e organização do mundo: "eu não consigo mais meu lugar no mundo, não me encaixo neste arranjo político, econômico e social, por isso dou cabo da minha vida"
Christian explica que todo sofrimento é uma história, tem começo meio e fim, carregado de transformações. “O sofrimento é contagioso, intransitivista, anômico – confunde quem é o agente ativo e o passivo do sofrimento. O mal-estar e uma experiência universal advinda da nossa prisão neste mundo ( estamos marcados em um pertencer comum), percepção independente da narrativa construída, o fim já está determinado: a morte!”, explica.
“Para o conferencista, o que nos torna humanos é a não aderência ao nosso lugar de nascimento (lugar geográfico, social, físico, econômico, político, etc). A negação do mal-estar não é o bem-estar, mas sim o "estar". O estar presente estar com o outro. O mal-estar está relacionado ao "não nominável" se sente, mas não se escreve. Uma vez nomeado abrem-se duas possibilidades: indução de novos sintomas e a construção do entorno do nome (narrativa). Para Lacan, o sofrimento toma a verdade como causa. Para a psiquiatria contemporânea a sua percepção do sintoma não interfere na definição do sintoma. Retira-se o sintoma e tudo se resolve. Como se estivesse destituído de sentido subjetivo contendo uma narrativa,” acrescenta.
Durante a conferência, Dunker destacou os quatro tipos de sofrimentos:
1) hipótese do objeto intrusivo: "tudo ia bem até que surgiu determinado objeto" diz-se: não as drogas, terapêutica da purificação.
2) violação de pactos: sofremos porque alguém em algum lugar não está cumprindo a lei. "Minha liberdade vai até onde começa a sua" constituição de leis organizadoras
3) perda da alma: narrativa menos conhecida baseada em discursos "em algum momento da minha vida eu me perdi, perdi sonhos, projetos, aspirações …" Extremamente presentes na modernidade.
4) experiência da dissolução da unidade de espírito: na história/tempo formam-se unidades dotadas de espíritos "família" "sociedade" alguém pode sofrer porque sentiu o impacto da dissolução dessas unidades de organização. Índios explicam melhor essa realidade: sofro pois eu não tenho mais onde enterrar meus mortos já que a civilização alterou minha realidade, logo compromete a minha existência. Entra no suicídio anômico – aceleração com o lugar se desmancha, pela introdução de outras narrativas.